A história de Lise Meitner, desta mulher pioneira na Física Nuclear, que resumidamente se contará em seguida, é, no mínimo, dramática. Da Áustria para a Alemanha, num mundo ainda mal adaptado à chegada das mulheres à Ciência, Lise enfrenta o desafio de gênero a par da escassez de aparelhagem de laboratório e das interpretações difíceis dos resultados experimentais. Mas a colaboração com Otto Hahn é eficaz e os resultados e as publicações sucedem‐se em catadupa. A Primeira Guerra Mundial deixa Lise só, mobilizados que foram o seu colega de trabalho diário e todos os jovens e menos jovens cientistas das equipas de investigação.
Terminada a guerra, a normalidade regressa por pouco tempo, tempo que Lise dilata até ao extremo. Soltam‐se descobertas, não sem algum conflito de raciocínio. A rivalidade com o grupo dos Joliot‐Curie, em Paris, e com o de Enrico Fermi, em Roma, é algo tumultuosa.
A implantação do regime nazi não dá tréguas aos desprotegidos e, no que respeita a Lise Meitner, vai dar origem a uma fuga da Alemanha digna de uma novela rocambolesca. No seu exílio na Suécia Lise não é feliz, exceto quando discute ciência acaloradamente com o seu sobrinho Otto Frisch ou com Niels Bohr em Copenhaga.
É a esta “little lady”, magra, vestida de forma antiquada e sempre de preto, que se deve a contribuição fundamental para a decifração do processo de cisão nuclear. Otto Hahn recebeu o Prêmio Nobel da Química; Lise Meitner não, nem da Física nem da Química, apesar de ter sido nomeada 15 vezes!